Como explicar o conceito de caro e barato para uma criança?
Caro e barato são conceitos complexos. O que é caro para alguém pode não ser para outro. Mas ao apresentar as expressões para a criança tudo o que se pretende é deixar “escapulir” durante as visitas ao supermercado, à padaria ou à banca de jornais apenas a existência das palavras: “como isto está caro!” ou “isto está bem barato!”. E basta. Rapidamente, a criança fará uso dessas duas expressões. Não faltará chance para que ela tome a iniciativa de perguntar antes de decidir pela compra: “E isso, é caro ou barato?”. Mais tarde, por volta dos seis anos, será hora de convocá-la a descobrir a variação de preços de loja para loja. Não importa quanto dinheiro você tenha, nem quão pouco custe o objeto, o foco é a educação. No início da adolescência, a cotação pura e simples deve somar-se à análise do material. Em relação às roupas, pode-se ensinar se o tecido é resistente; de boa qualidade; se o acabamento é bem feito; se eventuais ajustes serão necessários etc. Em qualquer fase, a intenção é levar a criança a perceber que o consumo deve ser precedido por ponderação, e não por impulso. Por outras palavras: que o uso do dinheiro exige racionalidade.
Como explicar para a criança o que é um cartão de crédito e um cheque?
Quando estiver na companhia de crianças menores de 6 anos, procure pagar as compras em dinheiro. A atenção ao troco, conferindo a quantia recebida, fornecerá indícios sobre o cuidado com ele. Se o pagamento for feito com cheque, chame a atenção para a diferença de uso em relação ao dinheiro. Deixe que elas observem o preenchimento do cheque e do canhoto. Se a forma de pagamento for o cartão de débito ou crédito, assegure-se de que seu filho esteja atento ao funcionamento da máquina e ao recibo de compra emitido. Mostre o funcionamento dos caixas eletrônicos, esclarecendo que você recebe por seu trabalho (depositado no banco) e os saques no caixa eletrônico. Só assim ele compreenderá que o dinheiro está saindo da sua conta. Explique e demonstre o passo-a-passo do processo de depósito de dinheiro. Um número considerável de crianças (e de adultos) imagina que o dinheiro sacado nos caixas eletrônicos é impresso no local, ou que dentro da máquina há uma pessoa que entrega o dinheiro. Não deixe de mencionar a importância da senha eletrônica para a segurança da operação.
Não gosto da ideia de dar dinheiro para crianças. Por isso meu filho não ganha mesada. Como posso ensiná-lo a ter limites nas compras e a lidar com dinheiro se ele não recebe dinheiro?
O exemplo dos pais constitui a principal influência. Isso não quer dizer que o destino dos filhos seja repetir o mesmo padrão. Mas é preciso admitir que a maneira como traduzimos o mundo – nossas atitudes e noção de valores – ficam marcados em nossos filhos de maneira que os anos não podem eliminar. Nesse sentido, é possível convidar as crianças a participarem da elaboração da lista de supermercado. A partir dos 3 anos, elas podem colaborar. Basta deixá-las responsáveis pela verificação da necessidade de compra de alguns produtos. Enquanto assistem aos pais preparando a lista, devem ser solicitadas a descobrir na despensa a necessidade de compras de sabonetes, por exemplo. Feita a checagem, e uma vez que recebam do filho a solicitação de inclusão do produto na lista, os pais devem torná-la responsável pela incorporação de determinado número de sabonetes ao carrinho de compras. São iniciativas desse tipo que ensinam aos filhos, na prática, a importância do planejamento familiar.
Como ensinar meu filho a esperar para comprar?
É da natureza humana pretender que os desejos e necessidades sejam satisfeitos tão logo se apresentem. Aprender a suportar as esperas é fruto de um processo de construção permanente. Não por acaso, uma pessoa madura financeiramente é capaz de adiar os desejos em função de futuros benefícios. O exemplo dos pais nesse processo é primordial. Se souber esperar, seu filho também saberá. Para treinar essa habilidade, determine as datas em que ele será presenteado e as comunique. Se a criança não tiver uma perfeita compreensão da passagem de tempo, providencie um calendário para que ela assinale quantos dias faltam para a grande data. Deixa-a fazer planos sobre o que irá pedir no aniversário. Outra dica é estabelecer marcas de tempo associadas ao consumo. Um exemplo é autorizar a ingestão de refrigerantes apenas nos fins de semana. Você vai se surpreender com o efeito organizador que decisões como essas provocam na criança. Fazer seu filho se acostumar a esperar para conseguir o que lhe deseja evitará que ele se torne refém do cheque especial e do cartão de crédito. Também vai torná-lo um adulto capaz de conviver com os limites da vida, por compreender que ninguém tem tudo o que quer, na hora que bem entende.
Meu filho de 6 anos quer comprar um brinquedo especial. Como ele ganha semanada, pensei em propor que ele guarde uma quantia por semana. Mas e se ele desistir no meio do caminho?
“Futuro”, nessa idade, é algo que acontecerá daqui a, no máximo, quatro semanas. É excessivo exigir da criança um esforço de poupança que se estenda além desse período. Vale mais a pena dar a máquina como presente de aniversário. Compreender a marcação do tempo em dias, meses e anos exige uma capacidade de abstração que não é possível aos menores de 10 anos. Em vez de mesada, as semanadas são mais apropriadas. Crianças dessa idade ainda são muito pequenas até mesmo para a sugestão de dividir os custos dos consumos mais caros. Estimule-o a encontrar objetivos de curtíssimo prazo. Cuide que essas metas possam ser alcançadas por pelo menos 50% da quantia que ele receberá a cada semana. A capacidade de fixar e alcançar os objetivos vai torná-lo, pela vida afora, cada vez mais confiante em sua capacidade poupadora. Quanto às eventuais desistências, não há problema. Assegure-se apenas de que ele compreenda as consequências da mudança de planos.
Recentemente perdi o emprego. Vamos precisar reduzir os gastos. Vou ter de parar com a mesada, e os passeios e compras deverão ser reduzidos também. Como explicar isso para as crianças pequenas?
As crianças percebem quando algo não anda bem em casa. Se os pais não comunicam a situação, a fantasia pode conduzi-las a cenários mais dramáticos que a realidade. Por isso, é preciso informá-las do que está ocorrendo. Mas seus filhos ainda são muito imaturos para compreender a complexidade do quadro. Um comunicado sucinto será o suficiente. Escolham um momento em que vocês se sintam serenos para conversar com eles. Com calma, expliquem as consequências que a perda do emprego acarretará. Na mesma ocasião, anunciem as novas regras da casa. Tecer considerações sobre o caráter do ex-chefe, ou outro assunto sobre os quais eles não tenham controle, deve ser evitado. Por outro lado, a suspensão da TV a cabo é algo com que eles podem lidar. É concreto. Mas se a conversa perder-se nos descaminhos do desespero, a angústia deles só crescerá.
Como explicar aos meus filhos que não tenho dinheiro?
Nem sempre é fácil admitir para nós mesmos que o orçamento familiar não comporta todas as vontades dos filhos. Afinal, é natural que os pais sintam a tentação de dar tudo o que eles pedem. No entanto, o maior presente é a compreensão da realidade da família. Isso não quer dizer que os pais têm de expor aos filhos mais do que eles merecem – ou conseguem – entender. Mas dizer a eles, de modo claro, sem dramas, que o orçamento familiar tem limites e que é preciso priorizar os gastos. A explicação mais do que suficiente.
Meu filho de 2 anos já fala em comprar coisas, como biscoito e chocolate. Ele sempre quer pagar com cartão ou dinheiro. Gostaria de saber como lidar com este assunto.
Seu filho tem dedicado bastante tempo observando o modo como você consome. Ele já compreendeu que existe dinheiro, que você o tem e que ele serve para comprar coisas divertidas e gostosas. Da próxima vez que for ao mercado, chame a atenção dele para a existência de coisas caras e baratas. Basta dizer algo como: “Hoje vamos procurar uma coisa barata para comprar”. Ou: “Será que isso é caro?”. Ele não vai entender quase nada agora. Mas depois vai começar a repetir essas palavras e perguntar se isto ou aquilo é caro ou barato. Esse é um dos primeiros passos para que perceba que o uso do dinheiro exige racionalidade. Apresente as várias moedas e cédulas a seu filho. Faça com que perceba as diferenças de tamanho, formato, peso e desenho que existem entre elas. Mostre os cuidados que se deve ter para manusear as cédulas. E não se preocupe tão cedo com a capacidade dele de associar as moedas ou notas ao valor correto. Com o passar dos anos, isto acontecerá, naturalmente.
Posso dar dinheiro ao meu filho em vez de um brinquedo no natal? Como calcular a quantia que devo dar a ele? E se algum parente quiser dar dinheiro também?
De maneira geral, a cômoda tentação de presentear os filhos com dinheiro acomete os pais, temerosos de não agradarem na escolha do mino. Embora compreenda as razões desses pais – afinal, nem sempre é fácil agradar as crianças e os adolescentes – , não me parece que presentear os filhos com dinheiro, em qualquer idade, seja uma boa ideia. Em primeiro lugar, porque os presentes devem ser compreendidos como uma demonstração de carinho que sentimos por aqueles que nos presenteamos. E carinho não tem nada a ver com dinheiro. Tem a ver com nossa capacidade de observar e perceber os sentimentos e os interesses de quem amamos. Você deve ter cuidado com a atenção excessiva que seu filho pode estar dando ao dinheiro, e corrigi-la sem demora. Ensine a ele que, muito mais importante que o dinheiro, é o sentimento de quem presenteia. Com relação aos familiares, antes de destinarem qualquer quantia à criança, devem sempre ter a elegância de pedir autorização e consultar os pais sobre a conveniência da quantia a ser dada.